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Skeleton Crew mostra que não é preciso grandes eventos para contar uma boa história | Crítica

  • André Keusseyan
  • 25 de jan.
  • 5 min de leitura

Série de Star Wars encanta com aventura infanto-juvenil simples, guiada pelo carisma de seus personagens




Skeleton Crew mostra que não é preciso grandes eventos para contar uma boa história
(Lucasfilm/Divulgação)

Não é novidade que os fãs de Star Wars são os mais difíceis de agradar.  Mesmo com sucessos em sequência, como The Mandalorian, Andor e Ahsoka, bastou uma produção mais controversa como The Acolyte para uma revolta generalizada tomar conta das redes sociais. A reação acalorada (e até um pouco exagerada) dos fãs à The Acolyte acendeu um sinal de alerta em cima do projeto que viria na sequência, afinal, se uma série que prometia mostrar grandes conspirações e mistérios e que contou com vários cavaleiros Jedi, alguns dos melhores duelos de sabres de luz da franquia e cenas pós-créditos antecipando a chegada de Darth Plagueis e do mestre Yoda não agradou, ao ponto de ser cancelada, que chance teria Star Wars: Skeleton Crew, uma série com um tom mais infantil e que acompanha um grupo de crianças perdidas pela galáxia, enfrentando piratas espaciais, sem nenhuma conexão com personagens conhecidos?


Mas pelo jeito estamos na "Era das Produções Desacreditadas", pois tal qual Agatha Desde Sempre, na Marvel, ou Pinguim, na DC, Skeleton Crew surpreende como uma das melhores produções de Star Wars. A trama simples e contida, que buscou inspiração em grandes clássicos dos anos 80, mostrou ser um enorme acerto, nos lembrando daquela boa e velha magia infantil que encanta o universo de George Lucas desde sua criação.


A série acompanha o grupinho de crianças formado por Wim (Ravi Cabot-Conyers), Fern (Ryan Kiera Armstrong), Neel (Robert Timothy Smith) e KB (Kyriana Kratter), vivendo suas vidas comuns de estudantes no pacato planeta At Attin. Tudo muda quando os quatro descobrem e acidentalmente ativam uma antiga nave que estava enterrada. Agora, perdidos nos confins da galáxia muito, muito distante, as crianças precisam enfrentar vários perigos como piratas, monstros gigantes e até X-Wings para encontrar o caminho de casa. Para isso, elas contam com a ajuda de um misterioso e malandro usuário da Força chamado Jod Na Nawood (Jude Law).


Desde que Luke Skywalker deu as caras no episódio final da segunda temporada de The Mandalorian, o foco da Lucasfilm para suas séries tem sido contar histórias grandiosas (como o retorno do Almirante Thrawn), com produções conectadas ao melhor estilo Marvel, apostando nas participações especiais de personagens consagrados. Quando tentou fazer algo em menor escala com O Livro de Boba Fett, a trama não se sustentou e foi preciso que Pedro Pascal sequestrasse dois episódios da produção para evitar que a série se tornasse “esquecível”. Felizmente, Skeleton Crew veio para mostrar que na imensa galáxia de Star Wars há espaço para todo tipo de narrativa e todo tipo de personagem.


o grupinho de crianças formado por Wim, Fern, Neel e KB se juntam ao misterioso Jod Na Nawood para voltar para casa
(Lucasfilm/Divulgação)

Criada e produzida pela dupla Jon Watts e Christopher Ford (Homem-Aranha: De Volta ao Lar), a série, apesar de se situar no mesmo período temporal de outras produções do chamado mandoverso, não está nenhum pouco interessada em servir de escada para a próxima produção. Longe das conexões com Skywalkers, mandalorianos, Siths, impérios e rebeliões, a série consegue trazer novos ares para o universo de Star Wars, mesmo bebendo da fonte de dezenas de filmes e séries que já vimos antes.


Em Skeleton Crew, Watts e Ford deixam de lado as referências a outros filmes e séries da obra de George Lucas e fazem uso de outro tipo de nostalgia. A produção se inspira em grandes clássicos do cinema como Os Goonies (1985) e E.T. - O Extraterrestre (1982) e até em Stranger Things (2016-), numa espécie de carta de amor à década de 1980.

Trazer crianças para o centro da narrativa foi com certeza uma decisão ousada, pois mesmo com o apelo infantil fazendo parte da essência de Star Wars desde sua origem em 1977, muitos fãs sempre torceram o nariz para a presença de crianças e elementos infantis na franquia, vide a recepção negativa à personagem como os Ewoks, Jar Jar Binks, o jovem Anakin Skywalker e mais recentemente a versão criança da Princesa Leia, vista na série Obi-Wan Kenobi. Isso se dá porque na maioria das vezes, produtores e executivos tendem a confundir infantil com bobo (sim Obi-Wan Kenobi, ainda não nos esquecemos da famigerada cena do casaco). Skeleton Crew, no entanto, evita essa armadilha e faz do quarteto infantil o grande destaque da produção.


As quatro crianças entram facilmente no Hall dos melhores personagens de Star Wars. Maravilhados com cada canto desse universo, os astros mirins são a representação dos fãs em tela, equilibrando perfeitamente o deslumbre pela exploração de um mundo completamente novo com o medo do desconhecido.


A galáxia é um lugar hostil e o principal acerto da série é não fazer de Wim, Fern, Neel e KB pequenos gênios que conseguem resolver todos os problemas facilmente. Eles erram, eles se atrapalham, eles brigam e aprendem como qualquer criança, tornando muito mais fácil nos conectarmos com cada uma delas. A série deixa claro que quatro crianças perdidas no espaço com certeza não sobreviveriam, pelo menos não sem ajuda. Ao longo dos episódios, as quatro se encontram com os mais diversos habitantes da galáxia muito, muito distante que as ajuda na jornada de volta para casa. Entre esses habitantes está o misterioso usuário da Força vivido por Jude Law.


Jod Na Nawood é o clássico cafajeste espertalhão que sempre está metido em encrenca, mas sempre arruma um jeitinho de escapar
(Lucasfilm/Divulgação)

Jod Na Nawood é o clássico cafajeste espertalhão que sempre está metido em encrenca, mas sempre arruma um jeitinho de escapar. Jod é quase uma mistura de Han Solo com Lando Calrissian, imprimindo uma dualidade moral que deixa difícil definir se devemos amar ou odiar o personagem.


A química de Law com o quarteto mirim é excelente, com o personagem alternando entre ser uma espécie de mentor para as crianças e um antagonista que precisamos ficar de olho a todo o momento. Essa dificuldade em definir Jod como sendo um herói ou um vilão faz do personagem uma das mais interessantes adições às produções recentes de Star Wars. Ao final da série lamentamos o fato de apenas termos ouvido falar sobre seu passado, mas podemos nos alegrar, pois caso uma segunda temporada venha ser confirmada, com certeza veremos um flashback de Jod.


Star Wars: Skeleton Crew mostra que não é preciso grandes eventos para contar uma boa história. Uma aventurinha rápida e divertida, cujo único objetivo é nos fazer voltar a ser criança às vezes é tudo que precisamos e o que pode remeter mais à infância dos fãs do que a imagem de um criança brincando em seu quarto com bonequinhos de Jedi, ou desafiando seu amigo para um duelo de sabres de luz invisíveis.


A audiência da série pode ter sido baixa, mas a recepção positiva da crítica e principalmente do público pode fazer a diferença para que o anúncio de uma segunda temporada seja realizado. Resta aguardar e torcer para acompanharmos as novas aventuras dessa carismática e divertida turminha.

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