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The Acolyte traz o melhor e o pior de Star Wars | Crítica

  • André Keusseyan
  • 25 de jul. de 2024
  • 5 min de leitura

Atualizado: 25 de jan.

Mesmo com ótimas ideias, a nova série da franquia peca na execução e não atinge todo seu potencial.




The Acolyte traz o melhor e o pior de Star Wars
Disney+/divulgação

Nos últimos anos, a franquia Star Wars tem sido uma verdadeira montanha russa, entregando grandes produções como Andor (2022) ou Ahsoka (2023), mas também projetos duvidosos como o desastroso A Ascensão Skywalker (2019) ou O Livro de Boba Fett (2021). Com The Acolyte, a nova série da saga espacial, não foi diferente. A produção, que pretendia apresentar um período, até então inédito da galáxia tão tão distante, nos filmes e séries, até tem ideias excelentes, mas acaba ficando aquém de todo seu potencial.


Ambientada no período da Alta República (100 anos antes da saga Skywalker), quando os Jedi estavam no auge de seus poderes como guardiões da paz, a trama acompanha a investigação de uma série de assassinatos de mestres Jedi com todas as evidências levando a crer que a culpada é a ex-padawan Osha Aniseya (Amandla Stenberg). Porém, sem demorar muito, a série revela que, na verdade, os crimes estão sendo cometidos por Mae, irmã gêmea de Osha (também vivida por Stenberg), dada como morta há dezesseis anos, após um evento que destruiu o clã de poderosas bruxas da Força da qual faziam parte. A partir de então, Osha se junta a seu antigo mestre, Sol (Lee Jung-Jae), e parte em uma caçada por Mae, desembocando na descoberta de uma grande conspiração que vai alterar o destino das irmãs e da Ordem Jedi.


Toda essa premissa mostra que as ideias da showrunner Leslye Headland tinham o potencial para fazer de The Acolyte uma das melhores produções da franquia. A série, porém, peca na maneira que conduz sua narrativa com algumas tramas, como a revelação de Mae como a assassina, se resolvendo de forma fácil e rápida, enquanto outras como a verdade por trás do passado das gêmeas, se arrastam ao longo dos oito episódios da produção.


O ritmo inconstante é sentido especialmente nas jornadas de Osha e Mae. Amandla Stenberg (Jogos Vorazes) faz o que pode para conferir algum carisma para as irmãs, mas o texto raso dificulta a atuação da jovem atriz. Na primeira metade da temporada, Osha é desprovida de qualquer tipo de personalidade, sendo literalmente guiada pelos demais personagens. Quase esquecemos que se trata de uma das protagonistas. Enquanto isso, Mae é um pouco mais trabalhada, mas suas constantes mudanças de objetivos ao longo da série impedem que construamos qualquer tipo de conexão emocional com ela. A situação muda na segunda metade, quando as irmãs invertem os papeis. Se Mae não convencia como vilã, passa a convencer muito menos como heroína. Por outro lado, medida que vai se aproximando da verdade por trás de seu passado, mas também do Lado Sombrio, Osha começa a atrair nossa atenção numa trama que fala sobre liberdade, sentimentos e desejo.


Manny Jacinto rouba a cena como o misterioso Qimir
Disney+/divulgação

Se as protagonistas alternam entre bons e maus momentos, o mesmo não pode ser dito de seus mestres. Lee Jung-Jae (Round 6) confere a seu Mestre Sol uma personalidade dúbia. Ao mesmo tempo em que transmite serenidade e compaixão, características que o tornam comparável a outros grandes mestres de Star Wars, como Obi-Wan Kenobi e Qui-Gon Jinn, o astro leva à tela um homem instável emocionalmente, disposto a tudo para fazer o que acha certo, mesmo sem pensar nas consequências. Tudo isso fica ainda mais impressionante devido ao fato do ator coreano não falar inglês, tendo se dedicado para aprender foneticamente todas as falas de seu personagem.


Ainda assim, o destaque fica mesmo com Manny Jacinto (The Good Place), que dá via ao misterioso Qimir. O astro rouba a cena de tal maneira que consegue potencializar tudo e todos ao seu redor, sendo o principal responsável pela melhora na personalidade de Osha. Dissimulado, carismático e extremamente ameaçador, Qimir, ou “o Estranho” (nome oficial do personagem) já cavou um lugar no panteão dos grandes vilões de Star Wars, ao lado do Imperador Palpatine, Darth Maul, Vader e Kylo Ren.


Outra personagem que merece destaque é a Mestra Vernestra (Rebecca Henderson). Assim como seu maravilhoso sabre-chicote, a personagem ficou mais como uma promessa para uma eventual segunda temporada do que como uma peça essencial para a história que estamos acompanhando no momento. Entretanto, seu arco apresenta uma das discussões mais interessantes da série: O que fazer quando um Jedi falhar em controlar o incontrolável, ou seja, suas emoções?


O diálogo entre a mestra Jedi e o Senador Rayencourt, vivido pelo ator David Harewood (Supergirl), é um dos melhores momentos da série e expõe a desconfiança da República para com o poder e a influência da Ordem Jedi, além de revelar o medo da própria Ordem de perder esse poder. Toda essa cena é o primeiro passo para a sucessão de eventos que vai terminar no extermínio dos Jedi por toda galáxia pelas mãos do Império e de Anakin Skywalker, o Jedi falhou em controlar suas emoções. Atuando como uma espécie de porta-voz entre a Ordem Jedi e o Senado da República, Vernestra traz para The Acolyte um tom político que eleva a qualidade do roteiro, aproximando a produção de outras obras mais maduras e bem avaliadas da franquia, como Andor. Apesar de compreensível diante dos demais assuntos abordados pela série, fica sendo uma pena que este núcleo tenha sido tão pouco explorado. Pelo menos por enquanto.


As batalhas e duelos de sabre de luz são, talvez, o ponto mais alto da série
Disney+/divulgação

Vale uma menção honrosa para Carrie-Anne Moss (Matrix) como a Mestra Indara. Apesar de curta, a participação da atriz é maravilhosa e um grande acréscimo para toda a franquia. Além, é claro, de Dafne Keen (Logan), que da vida a Jecki, a atual padawan de Sol, que conquista nossos corações com seu ar jovial, impetuosidade e ingenuidade, nos fazendo lembrar da jovem Ahsoka Tano nas primeiras temporadas da animação The Clone Wars (2008 – 2020).


Outro ponto positivo da produção (talvez o melhor) está nas empolgantes batalhas e duelos de sabre de luz. Do embate entre Indara e Mae logo nos primeiros minutos da série, até o confronto final entre o Qimir e Sol, The Acolyte entrega coreografias marcantes, inspiradas em filmes de artes marciais orientais como o clássico O Tigre e o Dragão (2000). Cada luta é única e cada personagem tem seu estilo próprio. Indara é calma e luta usando mais a Força do que seu sabre; Sol é um exímio espadachim, assumindo poses do Kendo antes de cada movimento; Qimir utiliza um estilo de luta conhecido no universo de Star Wars como Tràkata, que consiste em ligar e desligar o sabre durante o combate; já o mestre Kelnacca entrega a força bruta que esperávamos de um Wookie Jedi.


No final, The Acolyte traz o melhor e o pior de Star Wars. Apesar das batalhas empolgantes e de personagens memoráveis, a impressão que fica ao finalizar a série é de que a Disney entregou mais uma produção "apenas legal” num momento em que estamos ávidos por algo realmente grande na franquia, principalmente depois do fatídico episódio IX (nunca vou te perdoar por isso J.J. Abrams). Mas sem esperança os Rebeldes nunca teriam derrotado o Império, e caso uma segunda temporada seja confirmada, The Acolyte tem tudo para melhorar (o retorno de um velho conhecido dos fãs e a chegada de um Sith a muito aguardado, comprovam isso). A Disney tem um diamante nas mãos, basta lapidá-lo corretamente.

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