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Shazam! Fúria dos Deuses é uma sessão da tarde honesta e descompromissada | Crítica

  • André Keusseyan
  • 13 de jun. de 2023
  • 5 min de leitura

Atualizado: 25 de jan.

Filme da DC é carismático, simples e divertido, apesar da ação pouco empolgante




Família Shazam reunida para salvar o mundo

A franquia Shazam! sempre foi vista como o “patinho feio” da DC. Lançado em 2019, em meio a uma reformulação no DCEU, após o fracasso de Liga da Justiça (2017), Shazam! não foi um sucesso, mas a história do menino que ao gritar a palavra mágica “Shazam!” se transforma num super-herói adulto, dotado de poderes mágicos, acabou conquistando público e crítica com um filme que mescla a clássica aventura de super-herói com uma comédia familiar. A recepção positiva foi o suficiente para que uma continuação fosse confirmada. Dessa forma, Shazam! Fúria dos Deuses, filme que chegou ao streaming HBO Max no dia 23 de maio, repete a fórmula do primeiro, sendo amparado pelo carisma de seus personagens, apresentando sequências de ação divertidas, mas pouco empolgantes.


O filme começa mostrando Billy Batson (Asher Angel), anos após ganhar e distribuir seus poderes mágicos entre seus irmãos e irmãs, se questionando sobre sua função como super-herói em um mundo que já possui heróis mais famosos e adorados como Batman, Flash e Aquaman. Um acerto da produção que brinca com a aparente falta de interesse do estudio e do público pelo personagem, fazendo disso o combustível que o move em direção a seus objetivos. Assim, um dos desafios do garoto é mante a “família Shazam” focada em salvar o mundo, uma vez que cada um está em um estágio diferente da vida.


As relações familiares são com certeza o ponto alto do filme. O roteiro de Henry Gayden e Chris Morgan é inteligente em dar o próximo passo na jornada de um herói jovem, apostando assim em uma história sobre amadurecimento. A inocência da infância de Darla (Faithe Herman) e Eugene (Ian Chen), a chegada dos hormônios em Freddy (Jack Dylan Grazer) e Pedro (D.J. Cotrona), até os temores do início da vida adulta com Mary (Grace Caroline Currey), criam uma dinâmica envolvente e diversa que enriquece a jornada do amadurecimento de Billy Batson. Toda essa diversidade de perspectivas e interesses entre os membros da família fica ainda mais divertida quando esse bando de desajustados entra em ação, fazendo o lado “super-herói” se tornar muito mais cativante.


É uma pena que, apesar do elenco jovem brilhar, especialmente no quesito comédia, o mesmo não pode ser dito de suas contrapartes adultas que, na maior parte do tempo, apresentam dificuldades em interpretar crianças nos corpos de adultos, situação que fica mais evidente quando a criança já se tornou um adulto, como são os casos de Mary e principalmente de Billy. Não me entendam mal, Zachary Levi continua carismático como sempre, mas sua interpretação de Shazam acaba se mostrando muito mais infantil do que a interpretação de Asher como Billy.


Shazam! voa em direção ao inimigo

A exceção fica a cargo de Freddy e sua contraparte adulta, interpretada por Adam Brody. O jovem vive o clássico drama do adolescente impopular tendo que lidar com problemas amorosos típicos desta idade além do bullying na escola. Já sua versão adulta pega tudo isso e entrega um garoto que, agora no corpo de um herói superpoderoso, pode enfim se soltar e ser quem realmente é por dentro.


No entanto, o lado super-heróico do filme não recebe o mesmo capricho dado ao núcleo familiar. Dessa vez a família Shazam tem de enfrentar Hespera (Helen Mirren), Calipso (Lucy Liu) e Anthea (Rachel Zegler), filhas do deus grego Atlas, que chegam a Terra para recuperar a magia das divindades e reconstruir seu reino, mesmo que isso coloque o mundo em risco.


A velha dinâmica de invasão à Terra acaba soando repetitiva, uma vez que se trata de uma situação presente em quase todos os filmes do gênero “super-herói”. No próprio DCEU essa temática já foi vista várias vezes com vilões como Zod, Ares, Darkseid e até Starro. Proteger a Terra de ameaças externas é algo essencial para os super-heróis, mas é um clichê que poderia ser contornado com um desenrolar criativo da história e da relação entre os heróis e os vilões.


O filme de David F. Sandberg possui muitas possibilidades, desde o caráter pessoal da missão das vilãs, até a ligação que o universo de Shazam! tem com mitologias que poderiam levar a produção para caminhos únicos. O problema é que Fúria dos Deuses desperdiça essa oportunidade ao não mergulhar profundamente no lado mágico de seus personagens. Criaturas mitológicas como quimeras, unicórnios e dragões tem sua magia roubada quando colocados dentro um cenário tão mundano quanto uma cidade grande do mundo real ao invés de aparecerem em seus próprios mundos fantásticos, que estão literalmente a uma porta de distância.


Além disso, Shazam! 2 entrega combates desinteressantes e vagarosos que afetam até mesmo a grandiosa batalha final, que apesar de muito bem produzida e divertida, não chega a empolgar. A falta de interesse na ação é tão grande que o trio antagonista acaba lembrado mais por seus momentos cômicos como a personagem de Helen Mirren, ou pelo romance adolescente entre os personagens de Rachel Zegler e Jack Dylan Grazer, do que pela ameaça que representam. Lucy Liu até tenta dar um ar mais vilanesco para Calipso, mas nada que salte aos olhos.


Calipso e seu dragão invadem estádio de baseball

É curioso que ambos os filmes de Shazam! tenham sido lançados em momentos de reestruturação do Universo DC. O primeiro, como foi dito acima, logo após o fracasso de Liga da Justiça, rompendo de vez com a estética e tom do chamado “snyderverso” (filmes do DCEU dirigidos e produzidos por Zack Snyder) e entrando na Era Walter Hamada que buscou trazer para esse universo compartilhado um tom mais leve e colorido. Agora, o segundo filme é lançado em um momento ainda mais drástico: Sai Walter Hamada, entra James Gunn. O novo chefão criativo da DC optou por romper com quase tudo do antigo universo, alguns atores vão continuar, mas com as saídas dos pesos pesados, Superman de Henry Cavill e Batman de Ben Affleck, é muito provável que toda da Liga da Justiça sofra um reboot. O que já é certo é que a história começará do zero em um novo universo agora chamado de DCU.


Essa decisão acabou jogando um monte de dúvidas sobre os filmes da antiga gestão que, após vários adiamentos, principalmente em razão da pandemia de COVID-19, ainda seriam lançados esse ano. Ainda não se sabe se os filmes The Flash, Besouro Azul, e Aquaman: O reino Perdido terão alguma relevância para a história que James Gunn quer contar, e isso pode acabar influenciando no interesse do público pelos filmes, como foi o caso de Fúria dos Deuses, único dos quatro filmes lançados até a publicação desde texto. Mas pergunta à ser feita aqui é uma só: Um filme pode funcionar por si só, ou ele só tem relevância quando sua história leva o público para outras histórias?


Shazam! Fúria dos Deuses está longe de ser um dos melhores filmes de super-herói, mas também não chega perto dos piores. O filme é uma excelente “sessão da tarde”, mesmo com tantos clichês e batalhas sem muita empolgação, a dinâmica entre os membros desta família é capaz de divertir e entreter quem está procurando por uma aventura simples, honesta e sem compromisso com uma trama maior e complexa.

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