Aquaman 2: O Reino Perdido: Sessão da tarde descompromissada no ultimo ato do DCEU | Crítica
- André Keusseyan
- 2 de jan. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 25 de jan.
Segundo filme do rei dos mares joga no seguro tentando se encontrar em meio ao caos dos bastidores

Quando Aquaman (2019), primeiro filme do herói submarino da DC, chegou aos cinemas em 2019, o cenário era completamente diferente. O mundo não havia passado por uma pandemia que mudou drasticamente a forma de consumir entretenimento, Hollywood não havia enfrentado uma greve de atores e roteiristas que paralisou toda a indústria, e a direção que a Warner queria dar para seu universo de super-heróis era bem clara. Quatro anos depois tudo mudou e não tem como não ficar com a sensação de que Aquaman 2: O Reino Perdido é um filme que chegou atrasado para a festa. Com uma trama que diverte, mas pouco empolga o filme basicamente repete a fórmula que funcionou no primeiro, tentando se manter relevante em meio a um universo que não existe mais.
“O último que sair apague a luz”. Essa expressão define perfeitamente o contexto no qual Aquaman 2 foi produzido. Após ser oficializado como o novo chefe criativo da DC, James Gunn anunciou seus projetos para um novo universo de filmes da Liga da Justiça, decretando assim um reboot no então chamado Universo Estendido da DC (DCEU). A partir dai o que se viu foi um completo desinteresse do público pelos quatro filmes da antiga gestão que ainda precisavam ser lançados, e à medida que Shazam 2, The Flash e Besouro Azul se tornavam grandes fracassos de bilheteria, mais mudanças eram encomendadas por executivos da Warner na tentativa de tornar essas produções mais atrativas para o público. Hora os filmes eram anunciados como produções independentes, sem ligação nenhuma com projetos passados, hora participações especiais de membros da Liga da Justiça eram inseridas numa tentativa de passar uma falsa ideia de continuidade.
Aquaman 2 é, com certeza, um dos filmes que mais foi afetado pela bagunça nos bastidores da Warner Bros. A indefinição sobre o futuro do personagem vivido por Jason Momoa resultou em um filme confuso que nunca sabe exatamente o tom que quer adotar, passando de momentos sérios com temáticas importantes, como o aquecimento global, para uma comédia pastelão de forma abrupta, atrapalhando assim a forma como o público e os próprios personagens encaram a gravidade das situações.

A nova aventura apresenta o herói submarino tendo que conciliar seus deveres como Rei de Atlântida, com a criação de Arthur Júnior, o filho que teve com Mera (Amber Heard). Tudo fica mais complicado quando o Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II) retorna com sede de vingança, agora portando um antigo artefato que pode condenar o mundo todo. Para enfrentar a ameaça, o herói deve então unir forças com Orm (Patrick Wilson) seu meio irmão e antigo rival.
A premissa é até interessante, e a aposta na manutenção da equipe responsável pelo primeiro filme (o melhor do DCEU em minha humilde opinião), além de repetir a combinação entre galhofa e o espetáculo de ação com toques de terror que funcionou tão bem na produção anterior, parecia uma boa ideia. É uma pena que as disputas de poder dentro da Warner e as constantes trocas no comando da DC tenham afetado tanto o roteiro de David Leslie Johnson-McGoldrick que falha em criar uma narrativa coesa, com personagens entrando e saindo de cena sem maiores explicações.
Ciente de seus problemas, o filme até tenta disfarçar suas fragilidades criando motivações e diálogos emocionantes, como a conversa entre Arthur e seu pai sobre paternidade, além é claro de cenas de ação eletrizantes. Mas tudo acaba sendo uma grande “forçada de barra”, pois a falta de um direcionamento claro e de consequências para as situações enfrentadas compromete o desenvolvimento do arco de todos os personagens, em especial de Orm, que tem sua previsível redenção feita de forma apressada sem que realmente sintamos qualquer sinal de arrependimento por seus atos passados.
Mesmo assim, O Reino Perdido pode agradar quem estiver procurando por um filme sessão da tarde sem nenhum compromisso em ser mais do que precisa ser. Assim como em seu anterior, o filme acerta ao abraçar sem nenhum pudor toda a galhofa que compõe o universo do Aquaman. Com direito a cavalos-marinho gigantes, um exército de baleias e até um polvo espião, o diretor James Wan, cada vez mais confortável no gênero de super-herói, constrói um espetáculo audiovisual de tirar o folego. As cenas embaixo d’agua estão ainda melhores do que no primeiro filme. Ponto positivo para o filme que mesmo com tantos problemas na produção conseguiu superar a crise dos efeitos especiais que atingiu diversas produções nos anos pós- pandemia.

Outro ponto alto de Aquaman 2 está no relacionamento entre Arthur e Orm. Os dois irmãos são colocados em uma jornada onde devem superar suas diferenças e trabalhar em conjunto para derrotar o grande vilão da trama. Não tem como não perceber as semelhanças entre o desenvolvimento de Arthur e Orm com o que foi construído entre Thor e Loki no Universo Cinematográfico da Marvel. E mesmo que o filme não permita que a relação dos irmãos atinja o mesmo nível de excelência do que foi feito (até pelo tempo que tiveram para se dedicar a construção de seus personagens) por Chris Hemsworth e Tom Hiddleston, as interações entre Momoa e Wilson são genuinamente divertidas e resultam em algumas das melhores cenas de ação do DCEU, como a fuga de Orm de uma prisão guardada por criaturas aterrorizantes e fantásticas que expandem o que já conhecíamos desse universo.
No final, Aquaman 2: O Reino Perdido é um filme que joga no seguro, e que deixa claro desde sua primeira cena que seu objetivo é entregar uma brincadeira descompromissada que busca agradar aqueles que esperam apenas se entreter com uma aventura de super-herói bem básica. Por outro lado, pode decepcionar quem for esperando um final épico para o ultimo ato de um universo da Liga da Justiça.
Adeus DCEU! Foi uma jornada difícil, muito conturbada e marcada por executivos amadores e arrogantes, cujas disputas de ego resultaram em um universo mal construído, bagunçado e que raramente fez jus a seus personagens. Tivemos bons momentos (Aquaman (2019), O Esquadrão Suicida (2021), Mulher Maravilha (2017)), outros não vão deixar saudades (Liga da Justiça (2017), Esquadrão Suicida (2016), Mulher Maravilha 1984 (2020)).
Seja bem vindo DCU! Que James Gunn tenha sucesso na condução de um universo mais coeso e com produções a altura dos maiores heróis do mundo.