Oppenheimer: O épico histórico de Christopher Nolan | Crítica
- André Keusseyan
- 4 de ago. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 25 de jan.
Em sua primeira cinebiografia o diretor entrega um espetáculo de tirar o fôlego, digno de ser visto no cinema.

Os filmes do diretor Christopher Nolan sempre são um marco na história do cinema. Sejam elas, obras mais “complexas”, como A Origem (2010) ou Tenet (2021), histórias originais dentro de um cenário real, como Dunkirk (2017), ou até entrando no gênero de super-herói com a trilogia Cavaleiro das Trevas (2005-2012), o cineasta entrega experiências fantásticas que merecem ser vistas nas melhores salas de cinema. Esse é o caso de Oppenheimer, sua primeira cinebiografia, que acompanha a história do cientista conhecido como “pai da bomba atômica”. Cinebiografias são atrativas simplesmente por passarem a sensação de que “se a história retratada é digna de ser imortalizada em um filme, significa que o assunto é realmente extraordinário”, mas nas mãos de um gênio como Nolan, um simples filme biográfico se transforma em um épico histórico de cair o queixo, capaz de fazer o público, mesmo após 3 horas, avido por mais.
Além de dirigir, Nolan ficou responsável pelo roteiro do filme. Baseado em uma premiada biografia do cientista, a produção conta a história de J. Robert Oppenheimer, físico norte-americano, responsável por liderar o Projeto Manhattan, programa que produziu as primeiras bombas atômicas durante a Segunda Guerra Mundial. Desde o primeiro minuto o cineasta faz uso de sua vasta experiência, adquirida após comandar longas de diferentes gêneros, para fazer de Oppenheimer um estudo de personagem ambicioso, interessado em explorar ao máximo todas as facetas do personagem título, quando discutir sobre sua terrível criação.
Para isso, a produção se divide em duas linhas narrativas: a primeira aborda toda a carreira de Oppenheimer, suas conquistas, vida pessoal, passando pelo Projeto Manhattan até o primeiro teste da bomba. Já a segunda foca nas consequências do invento para o mundo e para seu inventor. A genialidade de Nolan se faz presente na forma não linear de contar essa história, desenvolvendo ambas ao mesmo tempo, e criando assim um interesse não só na conclusão, mas nos eventos que levaram até determinado acontecimento.

Assim como acontece com diversas produções que usam esse formato, as idas e vindas no tempo podem causar certa confusão no começo, porém, o filme cria para cada período, identidades próprias sem quebrar a unidade do projeto, e conforme avança, vão tornando tudo mais fácil de acompanhar, permitindo ao expectador embarcar na jornada sem problemas.
Todo o espetáculo vai sendo construído para seu grande clímax: A Experiência Trinity, codinome dado ao primeiro teste nuclear da história. Nolan é conhecido por evitar o uso de computação gráfica e optar por efeitos práticos, dessa forma o diretor usa toda sua habilidade para recriar de maneira impressionante o evento histórico. A qualidade de som e imagem na cena atingem níveis extraordinários, fazendo o público ficar vidrado na cadeira do cinema, sem respirar diante de tamanho poder de destruição. A sensação de que estamos, de fato, presenciando o evento é real.
Mas se engana quem acha que Christopher Nolan é um armamentista que está celebrando a bomba-atômica. Muito pelo contrário. Apesar de toda a qualidade técnica, o filme brilha mesmo ao destacar a figura do homem que foi Robert Oppenheimer, sem medo de destacar seus erros e defeitos. O cineasta demonstra respeito pela história e pelas paixões que moveram o físico, mas conduz um estudo de personagem que pende pelo lado trágico do cientista, mostrando um homem atormentado por sua monstruosa criação.
Desde que foi anunciado, um dos grandes atrativos de Oppenheimer foi seu elenco estelar. Parceiro de longa data de Nolan, Cillian Murphy da vida ao complexo cientista de maneira sublime. O astro da série Peaky Blinders da um show de atuação e apresenta um personagem firme, mas ao mesmo tempo frágil, que traduz muito bem as diferentes formas como o físico era percebido pelas pessoas.
Murphy é espetacular, mas sua estrela não brilha sozinha. Nomes como Emily Blunt, Florence Pugh, Matt Damon, entre outros, também marcam o expectador na saída do cinema. Cada personagem desempenha um papel importante no desenvolvimento do protagonista, ajudando a retratar uma figura no mínimo controversa, tanto em seus momentos de glória, quanto em suas desgraças.

Mas, entre todos desse elenco formidável, quem mais se destaca, além de Murphy, como um dos pilares que sustentam o filme, é Robert Downey Jr. O eterno Homem de Ferro da Marvel mostra que, mesmo após se dedicar por 10 anos a um personagem tão marcante, seu talento não ficou preso a apenas um papel. Não vemos nenhum traço de Tony Stark em sua interpretação magistral do empresário americano e oficial naval Lewis Strauss, cuja relação com Oppenheimer pode ser descrita simultaneamente, como de admiração, mas também movida pela inveja. É difícil não fazer um paralelo entre Mozart e Antonio Salieri no filme Amadeus (1984), que retrata a rivalidade entre os dois compositores, apesar do respeito mútuo que tinham pelo outro.
Oppenheimer vai além do aulão de história e se torna uma experiência cinematográfica de tirar o fôlego. Com atuações memoráveis e qualidade técnica deslumbrante, o filme se coloca como um dos melhores do ano e fortíssimo candidato na próxima temporada de premiações. Não é exagero dizer que Christopher Nolan alcançou um novo nível, em sua já, invejável carreira. Resta aguardar pelos próximos projetos do diretor e pelas surpresas que ele nos reserva.