Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice honra seu legado, embalado no mais puro suco de Tim Burton | Crítica
- André Keusseyan
- 7 de out. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de jan.
Continuação do clássico de 1988 é uma excelente porta de entrada para o estranho mundo de seu diretor

Nos últimos anos Hollywood tem apostado em continuações tardias de filmes clássicos, colecionando alguns sucessos e muitos fracassos. Uma das sequências mais pedidas pelos fãs sempre foi a continuação de Os Fantasmas Se Divertem, grande sucesso do diretor Tim Burton. Mesmo assim, havia uma dúvida se a produção teria realmente uma história que merecesse ser contada, ou se seria apenas uma continuação sem alma que simplesmente repete a fórmula que deu certo no passado. Felizmente, Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice dribla essa desconfiança com uma história nova, divertida e encantadora, embalada no mais puro suco de seu diretor.
Ambientada décadas após o longa original, a trama traz Lydia Deetz (Winona Ryder) de volta à pequena cidade de Winter River, após uma tragédia familiar. Usando seus poderes mediúnicos para viver como uma estrela da TV, Lydia tem que lidar com a relação conturbada com a filha, Astrid (Jenna Ortega), e enfrentar os fantasmas de seu passado, incluindo o espírito zombeteiro vivido por Michael Keaton.
O grande destaque da produção está em agir como se o filme tivesse sido realizado imediatamente após o primeiro. Burton não demonstra a menor preocupação em parecer “moderno” e evita o uso de efeitos visuais muito realistas, mantendo a estética cartunesca e lúdica que o consagrou durante os anos 80 e 90.
Os efeitos especiais toscos, os cenários e figurinos inspirados no surrealismo alemão, além, é claro, do humor mórbido do diretor estão de volta, trazendo para a produção a dose certa de nostalgia e fan service que agrada os fãs de longa data do diretor, mas que também encanta a nova geração.
Em Os Fantasmas Ainda Se Divertem, o trio protagonista é a alma do espetáculo. Completamente a vontade no papel, Michael Keaton não deixa transparecer seus 72 anos de idade, esbanjando toda a loucura anárquica de Beetlejuice. O astro corre, pula, dança e até canta como se fosse 1988.

Já Winona Ryder rouba a cena com uma Lydia mais madura, fazendo com perfeição a mudança da adolescente gótica problemática para uma mãe que tenta se reconectar com sua família. Ao seu lado, brilha a estrela de Jenna Ortega. A intérprete de Wandinha, na série de mesmo nome da Netflix, tem a importante função de trazer o público jovem para o filme, e se você, assim como eu, receava que a personagem fosse, não só uma cópia da primogênita da Família Addams, mas também uma cópia da própria Lydia pode ficar sossegado. Astrid passa longe da garota trevosa e mostra que Ortega é uma atriz versátil que não ficará presa a apenas um tipo de papel.
Os filmes de Tim Burton estão repletos de personagens estranhos e cativantes e em Beetlejuice Beetlejuice não é diferente. Há espaço para coadjuvantes como Willem Dafoe, que vive um ex- ator canastrão que, em vida, atuava em filmes policiais e que, agora na morte, usa seus talentos para atuar como uma espécie de detetive do mundo dos mortos. Já Monica Bellucci surge como uma noiva cadáver em busca de vingança de Beetlejuice.
Se o longa patina em algum momento, é na quantidade de núcleos presentes no roteiro assinado pela dupla Alfred Gough e Miles Millar (Wandinha, Smallville). Ao longo das quase duas horas, o filme conta várias histórias que parecem não estar conectadas, e que as vezes acabam ficando esquecidas até que sejam convenientes para a narrativa. Felizmente, esse problema é contornado com uma sequência final divertidíssima, que amarra todas as tramas de forma satisfatória.
Falando à imprensa em coletiva no Festival de Veneza, Burton afirmou que Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice é um dos projetos mais pessoais da carreira. A afirmação ousada se justifica em uma produção que honra o passado de seu diretor ao mesmo tempo em que olha para o presente, fazendo de Beetlejuice Beetlejuice, uma excelente porta de entrada para o Estranho Mundo de Tim Burton.