Indiana Jones e a Relíquia do Destino: Volte a ser criança! | Crítica
- André Keusseyan
- 9 de jul. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 25 de jan.
Na despedida do personagem, Harrison Ford entrega um filme nostálgico e emocionante para fã nenhum botar defeito.

Por mais de 120 anos o cinema nos presenteou com diversos personagens marcantes. Alguns são tão icônicos que basta uma imagem ou um trecho de trilha sonora para nos lembrarmos deles. Um dos maiores exemplos é Indiana Jones. Protagonizado por Harrison Ford, as aventuras do arqueólogo criado pelos mestres George Lucas e Steven Spielberg, encantaram gerações desde sua estreia em 1981. Agora, após quatro filmes e da compra da Lucasfilm pela Disney, chega aos cinemas Indiana Jones e a Relíquia do Destino, um filme que ousa pouco, mas encerra a saga do herói de forma digna.
Situado no início dos anos 1970, quase 20 anos após os eventos do controverso Reino da Caveira de Cristal (2008), a nova aventura apresenta Indy (Ford) completamente perdido e sozinho em um mundo que está mudando rapidamente. Entre a euforia da chegada do homem à Lua e os protestos contra a Guerra do Vietnã, parece não haver lugar neste novo mundo para um homem vivido como ele, nem para seus conhecimentos. É neste cenário que surge Helena (Phoebe Waller-Bridge), afilhada do protagonista, que o coloca novamente na ativa em busca de um poderoso artefato que está ligado com seu passado.
A partir dai o filme abraça todos os elementos que tornam Indiana Jones um personagem tão querido. De chicote e chapéu em mãos partimos, ao som da clássica trilha sonora, em direção a uma clássica aventura do arqueólogo, que deixa o fã com um enorme sorriso no rosto com suas viagens ao redor do mundo, perseguições eletrizantes, e com Indy fazendo o que faz de melhor: dar porrada em nazistas.
É nítido que a proposta de Relíquia do Destino nunca foi estabelecer novos rumos para a franquia, ou conquistar um novo público. Pelo contrário, o filme é como um “porto seguro” para aqueles que acompanham as aventuras de Indiana Jones durante décadas, e como se trata da despedida do personagem, uma vez que Ford já anunciou sua aposentadoria da franquia, é possível enxergar o longa como uma grande homenagem ao ator, a Indy e a seus fãs.

Mesmo com muitas cenas que referenciam os filmes antigos do explorador, o diretor James Mangold (Logan) não pesa a mão na nostalgia, equilibrando as homenagens à franquia com uma história que brinca com o tema tradição x modernidade. A sequencia inicial do filme é um prólogo situado no final da Segunda Guerra Mundial, mostrando um jovem Indiana Jones tentando recuperar artefatos históricos que estavam sendo roubados pelas forças alemãs. Vale destacar aqui o excelente trabalho da equipe de efeitos especiais na criação em CGI de uma versão rejuvenescida de Harrison Ford. A sequência tem como propósito mostrar o personagem no auge, bem como seu fascínio pelas relíquias do passado, para logo em seguida jogá-lo na dura realidade do inicio da década de 70, um tempo onde as pessoas olhavam mais para o futuro, e não se importam com quem ele foi ou com o que ele ama.
Neste contexto, Harisson Ford entrega um Indiana Jones amargurado pelos obstáculos que surgiram durante o caminho, apegado aos dias de glória e que não demonstra apresso pelo cenário atual do mundo, mas seus olhos ainda guardam o mesmo brilho diante de uma nova jornada. Por outro lado, temos Phoebe Waller-Bridge que se destaca como a dúbia Helena. A atriz de Fleabag (2016-2019) mostra todo seu talento e charme na construção de uma personagem que serve como bom contraponto ao vivido Indiana Jones. Com certeza Helena se torna uma grande adição na galeria de companheiros de Indy.
Nessa mesma toada geracional, a produção acerta novamente ao trazer de volta os vilões mais tradicionais da franquia: os nazistas. Representados na figura do Dr. Jürgen Voller (Mads Mikkelsen), cientista do Terceiro Reich que, após a guerra, foi recrutado pelo governo americano na operação conhecida como paperclip, se tornando crucial para o sucesso do país na corrida espacial. O filme faz uma espécie de comparação entre Indiana Jones e Voller. O personagem de Mikkelsen também se mostra apegado a seus dias de glória na Segunda Guerra e, inconformado com a derrota Alemã, demonstra certo desdém pelo cenário atual do mundo. No entanto, diferente de Indy, cuja experiência e conhecimento não interessam mais à nova geração, o apego de Voller aos ideais nazistas é forte o suficiente para recrutar vários agentes governamentais americanos para sua causa.
Entre eles se destaca Klaber (Boyd Holbrook), um típico estadunidense branco que abraça a ideologia nazista movido por um delírio de pureza racial e por um saudosismo injustificável por uma época que nunca viveu. Mangold toca aqui em um tema assustadoramente moderno, mostrando que é possível se aprender muito com o passado, para bem e para o mal.

Outro ponto positivo do filme é seu clímax. Nessa hora, o roteiro (assinado por Mangold, David Koepp e os irmãos John-Henry e Jez Butterworth) parece ter sido escrito por crianças, mas não me entendam mal, não digo isso de maneira pejorativa, muito pelo contrário. A sensação que se tem vendo o ato final é de que todos os roteiristas voltaram no tempo e estavam brincando e se divertindo com seus bonecos de Indiana Jones, criando uma aventura inusitada cujo proposito é apenas esse: divertir.
E se me permitem uma observação mais pessoal, foi exatamente assim que deixei a sala de cinema. Voltando a ser aquele garoto que assistiu Caçadores da Arca Perdida (1981) pela primeira vez, doido para pegar meus bonequinhos e brincar.
Com tudo isso em mãos, é seguro dizer que Indiana Jones e a Relíquia do Destino atinge seu objetivo. O novo filme diverte e encanta especialmente aqueles que, assim como Sallah (John Rhys-Davies), sentiam saudades do deserto, do mar, de acordar toda manhã imaginando que aventura maravilhosa o novo dia traria e buscavam exatamente essa “clássica aventura de Indiana Jones” para sair com o coração quentinho. Relíquia do Destino é um reencontro nostálgico que encerra a saga do maior arqueólogo da cultura pop de maneira gloriosa. Adeus, Indiana Jones! E obrigado, Harrison Ford!