Echo: O retorno da Marvel urbana | Crítica
- André Keusseyan
- 22 de jan. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 25 de jan.
Mais próxima das produções do estúdio na Netflix, nova série da Marvel cumpre seu papel e dá o tom das futuras produções no Disney+.

Dentre todos os personagens que foram apresentados em Gavião Arqueiro (2021), Maya Lopez (Alaqua Cox) com certeza não estava em primeiro na lista dos fãs para ganhar uma aventura solo. Porém, diversos fatores permitiram que a personagem ganhasse sua chance em Echo, minissérie em cinco capítulos que chegou ao Disney+ sem muito alarde, e que talvez por isso, consiga superar a desconfiança e cumprir sua missão de forma competente.
Após um 2023 bastante complicado, a Marvel resolveu rever alguns conceitos e realizar mudanças em seus projetos. Filmes foram adiados e produções que já estavam em processo de filmagens foram paralisadas e passaram por uma espécie de reboot criativo, como é o caso da série Daredevil: Born Again. Mas a mudança mais significativa talvez tenha sido a criação do Marvel Spotlight, novo selo do estúdio que abrange produções mais maduras e com pouca ou quase nenhuma relação com a grande Saga do Multiverso. É aqui que Echo se encaixa. Sem a pressão de ter que se conectar tão fortemente à narrativa compartilhada dos outros títulos do Marvel Studios, a série consegue focar na jornada de sua protagonista e, com calma, dar o tom das futuras produções do estúdio no Disney+.
Primeira série sob o novo selo, a produção se reaproximou do estilo artístico que era visto nas séries da Marvel na Netflix, trazendo a brutalidade das ruas de volta ao MCU. O uso da violência e do sangue, que havia chamado a atenção nos trailers lançados, não é gratuito. Nas mãos da showrunner Marion Dayre (Better Call Saul, The Act) e da diretora Sydney Freeland (Deidra e Laney Assaltam um Trem), o novo artifício se torna uma ferramenta para aprofundar a personalidade dos personagens e ligá-los dentro de um ciclo de violência difícil de ser quebrado.
Outro ponto positivo proporcionado pelo novo selo são as sequências de luta. Muito bem coreografadas, é possível sentir o impacto de cada golpe dado, principalmente na rápida participação do Demolidor. Essa, aliás, era uma questão a ser respondida. Será que Maya teria condições de sustentar uma aventura solo sem ter que apelar a todo instante para o demônio de Hell's Kitchen? Felizmente, a resposta é sim. Echo não se apoia na figura do Homem sem medo. Pontual, a participação do herói nunca obstrui o brilho de Maya, pelo contrário, engrandece suas habilidades.

Mesmo que possa servir como um prólogo de Born Again, a produção nunca perde de vista que seu principal trunfo esta em Maya e Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio). A problemática relação que foi apresentada em Gavião Arqueiro, e que chegou ao fim após ela descobrir que o vilão foi responsável pela morte de seu pai, agora é trabalhada desde sua origem. A série mostra, através de vários flashbacks, como os traumas do passado moldaram essa relação, meio de tio e sobrinha, chefe e capanga, e que foi usada como uma espécie de ponto de fuga para as feridas que ambos possuem em seu interior. A narrativa então segue os eventos da série dos arqueiros após Maya decidir se vingar do Rei do Crime. Crente de que havia eliminado Fisk, ela agora aspira criar o seu próprio império criminal em Nova York, mas perseguida pelos capangas do vilão, Maya se vê forçada a retornar à reserva indígena onde nasceu e confrontar questões sobre seu passado.
Esse retorno ao passado de Maya Lopez permitiu á Alaqua Cox evoluir em sua performance e crescer como atriz. Ao longo da jornada, Cox mostra todo seu talento e expressividade para dar novas camadas a uma personagem cujo grande atrativo, até então, eram as ligações que tinha com outros heróis e vilões do MCU. É visível que a atriz abrilhanta o projeto, principalmente quando se encontra ao lado de um ator já consagrado como Vincent D’Onofrio, que a cada série que passa, mostra que nasceu para interpretar o Rei do Crime.

Além disso, explorar o passado de Maya permitiu à série explorar uma nova mitologia e trazer conceitos inéditos para o universo Marvel. Parte da nação nativo-americana Choctaw, a herança cultural da personagem e sua família não só influenciam na jornada da protagonista, como enriquecem a narrativa como um todo. Em cada inicio de episódio visitamos um período diferente da história, onde somos apresentados a uma ancestral de Maya, cuja história personalidade e habilidades ecoam através do tempo e se conectam aos dons de Maya nos dias atuais. As sequências ainda trazem um encanto único à narrativa, principalmente a do terceiro episódio que presta homenagem à história da sétima arte ao trazer um segmento inspirado no cinema mudo.
Tudo isso é possível graças a uma colaboração da equipe, formada por pessoas nativo-americanas, com o povo Choctaw do mundo real. Também é válido destacar o trabalho de Rebecca Roanhorse na equipe de roteiristas. Os fãs dos quadrinhos Marvel talvez reconheçam o nome da autora de ficção científica, responsável pelo arco A Canção da Fênix: Eco, história mais celebrada da personagem e principal fonte de inspiração para a série. Outro ponto positivo de Echo é a forma como a diretora Sydney Freeland trabalha o uso da língua de sinais como forma de Maya distinguir quem ao seu redor se importa o bastante para buscar formas de se comunicar com ela.
Infelizmente velhos hábitos não morrem tão rápido. Echo é uma série que foi pega no meio da mudança de posicionamento do Marvel Studios e por esse motivo, mesmo com tantas mudanças, a produção ainda apresenta alguns problemas vistos em projetos passados do estúdio. O final apressado e resoluções fáceis para as adversidades enfrentadas acabam enfraquecendo um pouco a história e prejudicando o confronto final entre Maya e o Rei do Crime, que fica aquém de seu potencial.
Mesmo assim, Echo cumpre sua missão. A série faz Maya Lopez subir de patamar entre os heróis e heroínas do MCU, e estabelece o tom das futuras produções da Marvel no Disney+, mostrando que o estúdio está sim, de olho nos fãs. A reaproximação com o legado das séries na Netflix se mostrou uma decisão acertada, e pelos ganchos e possibilidades que Echo abre em sua cena pós-créditos, podem ter certeza de que muitas coisas boas estão por vir.