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As Marvels supera uma história mediana com a força de suas protagonistas | Crítica

  • André Keusseyan
  • 20 de nov. de 2023
  • 4 min de leitura

Atualizado: 25 de jan.

Apesar de a aventura ser pouco impactante, a dinâmica do trio de heroínas torna o filme bem divertido.




A dinâmica do trio de heroínas é o coração do filme
(As Marvels/Divulgação)

O ano de 2023 foi um ano complicado para a Marvel. Com muitos altos e baixos, devido a um público que já sente o cansaço do gênero depois de mais de uma década de filmes baseados em quadrinhos e que mudou drasticamente seus hábitos de consumo de entretenimento após a pandemia de COVID-19. Some-se há isso uma greve de roteiristas e atores que paralisou toda a indústria de Hollywood e impediu a divulgação de diversas produções por mais de 100 dias. Como se não bastasse tudo isso, As Marvels, filme que chegou aos cinemas na última quinta-feira, dia 09 de novembro, teve que enfrentar o ódio e o machismo de parte do fandom, nas redes sócias, contra sua protagonista principal, além da missão de ser ao mesmo tempo uma continuação do filme Capitã Marvel (2019), da série Ms. Marvel (2022) e do arco da personagem Monica Rambeau (Teyonah Parris), iniciado na série Wandavision (2021).


Sem perder muito tempo explicando as origens das personagens (o que pode dificultar para aqueles que não estejam totalmente contextualizados sobre os atuais eventos do MCU), As Marvels já começa na ação, com o trio formado por Carol Danvers (Brie Larson), Kamala Khan (Iman Vellani) e Rambeau trocando de lugar sempre que utilizam seus poderes ao mesmo tempo. Para reverter esse fenômeno, as três embarcam em uma viagem pela galáxia atrás de Dar-Benn (Zawe Ashton), a nova líder dos Kree que está usando um antigo artefato, ligado ao bracelete de Kamala, para roubar os recursos naturais de diversos planetas, com o objetivo de salvar Hala, capital do Império Kree, da completa destruição.


Assinado por Megan McDonnell, Elissa Karasik e pela própria diretora Nia DaCosta, o roteiro tem na “aventura da semana” seu ponto mais fraco. Muito corrida, a história pouco explica o porquê de certas coisas acontecerem, os conflitos são resolvidos com extrema facilidade e até mesmo a batalha final não passa a sensação de que há um perigo real. Mesmo que tenha sido escrito como uma aventura descompromissada que só quer entreter, a falta de consequências não deixa de ser frustrante.


Isso se dá por dois motivos. Primeiro porque o longa precisa manter a fórmula Marvel e ser “mais um capítulo de uma história maior”, segundo porque, apesar de contextualizar as motivações de Dar-Benn e sua rixa com a Capitã Marvel, a vilã é mais uma a entrar na categoria “vilões esquecíveis do MCU”. Pouco cativante, a personagem cumpre seu propósito, mas se trata apenas de criar um pretexto para impulsionar Carol, Monica e Kamala em sua jornada por planetas diversos, com populações e culturas próprias.


Brie Larson está mais leve no papel de Carol Danvers
(As Marvels/Divulgação)

Mesmo assim, o filme está longe de ser uma experiência negativa. Nia DaCosta utiliza o artifício da troca de posições entre as personagem para criar cenas de ação eletrizantes e muito bem coreografadas. O CGI também não deixa a desejar, permitindo que o expectador aprecie os efeitos especiais em ambientes claros e com muita luz, ao invés de tentar decifrar o que está acontecendo em lugares mais escuros. O visual é outro acerto do filme, com a arquitetura e o figurino de cada lugar visitado se diferenciando entre si e se destacando entre outras espécies e culturas já vistas ao longo do MCU.


Mas o grande trunfo de As Marvels para superar todos seus obstáculos está justamente nas Marvels. A dinâmica entre o trio de protagonistas é um deleite. DaCosta foi precisa quando disse, em entrevista, que a relação entre as personagens seria semelhante a um relacionamento entre irmãs, com Carol sendo a irmã mais velha e bem sucedida, e que por conta deste sucesso, acabou sem querer, negligenciando Monica, a irmã do meio, que nutre um amor e admiração por Carol, mas deixa claro a mágoa pelos anos de ausência da heroína. Já Kamala é a irmã caçula, que nunca viveu com a irmã mais velha, mas a vê como um modelo a ser seguido.


Sem o peso de ser “aquela que irá salvar o universo de Thanos”, Brie Larson está mais leve no papel de Carol Danvers. A Atriz mostra todo seu talento tanto nas cenas cômicas, como nas mais dramáticas, revelando os sentimentos e inseguranças da Capitã Marvel, finalmente humanizando a personagem que anteriormente era retratada apenas como uma entidade extremamente poderosa. O carisma de Brie faz com que ela tenha química com todos os atores com quem contracena. Principalmente com seu amigo veterano Samuel L. Jackson, que retorna como o espião Nick Fury e com a jovem Iman Vellani.


Por falar nisso, a luz de Vellani com certeza é a que brilha mais forte. A atriz mostra mais uma vez que nasceu para viver Kamala Khan. A empolgação da personagem de atuar ao lado de sua de sua heroína favorita reflete a empolgação de Vellani de estar em uma produção deste tamanho, ao lado de grandes nomes do MCU. Ao longo do filme, Kamala passa por uma jornada de amadurecimento ao perceber que mesmo sendo uma super-heroína, às vezes não é possível salvar todo mundo, e que mesmo aqueles que mais admira também tem suas falhas.


Iman Vellani mostra mais uma vez que nasceu para viver Kamala Khan
(As Marvels/Divulgação)

Dentre as três, Teyonah Parris é quem menos se destaca. Não por demérito da atriz, mas pelo pouco espaço dado a Rambeau. Mesmo assim, o filme encerra o arco da personagem iniciado em Wandavision e deixa Monica como uma das figuras centrais para o que está por vir no futuro da Marvel.


Nia DaCosta entrega um filme que caminha com as próprias pernas, sem sacrificar a construção do hype para o que vem pela frente na Saga do Multiverso e a cena final do longa, referenciando o momento mais icônico e que começou toda a história do MCU, evidencia isso. E eles não poderiam ter escolhido alguém melhor para protagoniza-la.


Com pouco mais de uma hora e meia de duração, As Marvels entrega exatamente o que prometeu: um filme dinâmico e divertido, guiado pela força de suas protagonistas. Mesmo que tenha algumas imperfeições, o filme encanta aqueles com a mente e coração dispostos a aceitar que, antes do próximo “Vingadores: Ultimato” é preciso construir o cenário e os laços entre os personagens. A final, essa sempre foi a principal virtude do universo criado pelo Marvel Studios há quase quinze anos.

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