top of page

Duna: Parte 2 cumpre seu destino com um filme digno da frase “Isso é Cinema!” | Crítica

  • André Keusseyan
  • 20 de mar. de 2024
  • 5 min de leitura

Atualizado: 25 de jan.

Segunda parte da saga expande o grandioso universo criado por Frank Herbert




Duna: Parte 2 é um filme épico
(divulgação/Warner Bros.)

Duna: Parte 2 chegou repleto de expectativas. Afinal, a primeira parte da saga que adapta o clássico livro de Frank Herbert terminou, literalmente, com a frase “isso é apenas o começo”. Após quase 2h40, onde constrói lentamente as engrenagens culturais, políticas e religiosas que regem o universo de Duna, o primeiro filme chega ao fim antes de alcançar alguns dos pontos altos da história, algo que é justificado pela impossibilidade de compilar em um único longa toda a obra original, mas que acabou resultando em um final anticlimático que jogou uma enorme responsabilidade para a continuação. Felizmente, Duna: Parte 2 cumpre seu destino com um filme épico, digno da frase “Isso é Cinema!”.


O segundo filme começa exatamente de onde seu antecessor parou, com Paul (Timothée Chalamet) e sua mãe, Lady Jessica (Rebecca Ferguson), pedindo abrigo aos Fremen após o massacre de toda a Casa Atreides. O grupo, nativo do planeta Arrakis, aceita receber mãe e filho pela possibilidade dos dois estarem ligados a uma antiga profecia. Assim, Paul precisa aprender os costumes dos Fremen, se tornar um deles e convencê-los de que pode ser útil na batalha final contra os Harkonnen pelo controle de Arrakis.


O diretor Denis Villeneuve abraça o gênero de aventura com a jornada de Paul para se tornar um Fremen. Cada nova descoberta é conduzida com empolgação e deslumbramento pelo diretor, e junto ao jovem Atreides vamos aprendendo como funciona essa sociedade, suas tradições, hierarquias, táticas de guerra e principalmente suas diferenças ideológicas, uma vez que parte dos Fremen acredita que Paul é o Messias prometido, já a outra enxerga tudo isso como uma grande besteira.


Estes dois pontos de vista são amplamente discutidos durante a primeira etapa do filme, na qual Villeneuve fala sem o menor pudor sobre o poder da religião no controle de massas. Nesse momento Duna: Parte 2 deixa de lado o senso de aventura e deslumbramento tão marcantes no primeiro filme e se aprofunda em temas que marcaram não apenas a obra de Frank Herbert, mas que estão em pauta até os dias de hoje. Conflitos por combustível, política e crenças estão presentes na narrativa que não se contenta em repetir o que deu certo no longa anterior, dando passos importante em direção ao contraste que torna a segunda parte muito mais grandiosa.


Paul e Chani em cena de Duna: Parte 2
(divulgação/Warner Bros.)

A fé é um dos elementos mais importantes para a ascensão de Paul Atreides, que é conduzida com perfeição por um Chalamet confortável no papel do predestinado que apesar de não acreditar ser um Messias prometido, sabe que a possibilidade pode ser útil em sua vingança contra os Harkonnen, e por isso aceita esse destino mesmo que a contragosto. Todas essas dúvidas e questionamentos fazem de Paul um personagem complexo e enriquecem não só sua evolução, como dos demais personagens que o cercam.


O embate entre fé e ceticismo é muito bem representado por duas figuras centrais para ascensão de Paul. De um lado temos Stilgar (Javier Bardem), que vê sinais proféticos em cada ação do protagonista e rouba a cena sempre que aparece. Do outro temos Chani (Zendaya), que acredita que quem deve salvar os Fremen da opressão deve ser os próprios Fremen, não um estrangeiro prometido a milhares de anos. É dela, inclusive, que sai uma das frases mais emblemáticas do filme: “se quiser controlar as pessoas, prometa a elas um salvador e elas o esperarão pelo resto da vida”.


O primeiro filme foi bem direto ao dividir os heróis, representados pelos Atreides, e os vilões, encarnados na Casa Harkonnen e no impiedoso Barão (Stellan Skarsgard). Mas a Parte 2 se dedicada a diluir a linha que separa o “bem e mal”, trazendo para a narrativa alguns tons de cinza que podem ser vistos tanto na decisão de Paul em aceitar seu destino, mesmo que isso resulte em uma sangrenta Guerra Santa, quanto em Lady Jessica, que deixa de lado a mãe amorosa e preocupada vista no longa anterior para se tornar uma figura controversa e manipuladora, cheia de interesses escusos.


A primeira parte de Duna terminou com um duelo um tanto quanto monótono entre Paul e o Fremen Jamis (Babs Olusanmokun), no qual o protagonista vence sem grandes problemas. Isso deixou a sensação de que, por se tratar de uma narrativa alimentada por profecias, a imprevisibilidade da trama acabaria se perdendo. Afinal, se tudo está escrito, onde se encontra a ameaça?


Austin Butler domina todas as cena como Feyd-Rautha
(divulgação/Warner Bros.)

Felizmente, Villeneuve contorna esse problema nos apresentando o outro lado do conflito. O cineasta confere mais espaço para a Casa Harkonnen, nos apresentando um pouco de suas tradições, funcionamento interno e mostrando como os feitos de Paul junto aos Fremen tem afetado o controle da Casa sobre o planeta Arrakis e principalmente sobre a Especiaria, principal recurso do universo de Duna.


O grande destaque desta etapa do filme é a chegada de Feyd-Rautha. O psicótico sobrinho do Barão Vladimir Harkonnen é apresentado como uma espécie de versão sombria de Paul, uma vez que ambos estão sendo moldados, cada um a sua maneira, para governar Arrakis. Tal paralelo é explorado de maneira sublime pelo ator Austin Butler (Elvis), que domina praticamente todas as cenas em que aparece.


Além dos dois núcleos, o filme também dedica parte de seu tempo acompanhando aqueles que não tomam lados, em especial a Princesa Irulan (Florence Pugh), que nos contextualiza sobre as reverberações da queda da Casa Atreides em outros pontos do Imperium. Apesar de curta, a participação de Pugh é uma boa introdução para a personagem, que terá muito mais destaque nas possíveis continuações.


Duna: Parte 2 é a consagração da carreira de Denis Villeneuve, combinando tudo que o cineasta aprendeu em projetos passados como Os Suspeitos (2013), A Chegada (2016) e Blade Runner 2049 (2017). Ao lado de Greig Fraser, o diretor cria uma fotografia irretocável retratando mundos diversos, das dunas de areia que moldam o deserto de Arrakis aos sombrios corredores de Gieidi Prime (terra natal da Casa Harkonnen) – com destaque para a espetacular sequência em preto e branco que marca a apresentação de Feyd-Rautha.


A grande batalha pelo controle de Arrakis é impressionante, elevando o projeto a níveis vistos apenas em obras como O Senhor dos Anéis (2001 – 2003). Apesar de rápido, o embate final é a culminação de todos os conflitos vistos até aqui e graças aos tais tons de cinza, podemos nos atentar ao fato de que não há um lado certo, e assim, temer por cada um dos envolvidos.


Villeneuve já disse anteriormente que cinema é muito mais sobre imagens do que diálogo, e através delas o diretor consegue traduzir toda a grandiosidade da obra de Frank Herbert, tornando Duna um espetáculo que merece ser visto na tela grande, de preferencia em salas com a melhor qualidade de som e imagem.


Duna: Parte 2 é um filme gigante, tão grande quanto um Shai-Hulud (vermes que habitam as areis do deserto de Arrakis). Villeneuve criou um épico que, assim como a obra original, não foge dos temas mais espinhosos, e que tem tudo pra ficar marcado na história do cinema, atingindo um patamar que só pode ser comparado à trilogia da Terra Média de Peter Jackson.


Que venha Duna: Parte 3!

Fale conosco

Obrigado pelo contato

© 2023 - 5ª Série Quântica

bottom of page